A cidade ganha o nome através da sua ilha (Ilha de Luanda), local onde os primeiros colonos portugueses se radicaram.[6] O topónimo Luanda provém do étimo lu-ndandu. O prefixo lu, primitivamente uma das formas do plural nas línguas bantu, é comum nos nomes de zonas do litoral, de bacias de rios ou de regiões alagadas (exemplos: Luena, Lucala, Lobito) e, neste caso, refere-se à restinga rodeada pelo mar. Ndandu significa valor ou objecto de comércio e alude à exploração dos pequenos búzios colhidos na ilha de Luanda e que constituíam a moeda corrente no antigo Reino do Kongo e reino do Ndongo em grande parte da costa ocidental africana, conhecidos por zimbo ou njimbo.[7]
Como os povos ambundos moldavam a pronúncia da toponímia das várias regiões ao seu modo de falar, eliminando alguns sons quando estes não alteravam o significado do vocábulo, de Lu-ndandu passou-se a Lu-andu. O vocábulo, no processo de aportuguesamento, passou a ser feminino, uma vez que se referia a uma ilha, e resultou em Luanda.[7]
Outra versão para a origem do nome refere que o mesmo deriva de “Axiluandas” (homens do mar), nome dado pelos portugueses aos habitantes da ilha, porque quando aí chegaram e lhes perguntaram o que estavam a fazer, estes responderam “uwanda”, um vocábulo que em Kimbundu designava trabalhar com redes de pesca.[8]
“uwanda”, um vocábulo que em Kimbundu, designava trabalhar com redes de pesca.[8]
História
Da fundação à dominação neerlandesa[editar | editar código-fonte]
Quando os portugueses chegaram à região onde hoje se localiza a cidade de Luanda, esta era parte integrante do reino do Ndongo, tributário do reino do Kongo, na altura e era especialmente importante por ser uma zona produtora de nzimbo, uma pequena concha com valor fiduciário.[9]
Respondendo a um pedido de envio de missionários feito aos portugueses pelo rei Ndambi a Ngola do Ndongo em 1557, no dia 22 de dezembro de 1559 zarparam de Lisboa três navios com um emissário do rei de Portugal, Paulo Dias de Novais, e dois padres jesuítas, Francisco de Gouveia e Agostinho de Lacerda. Chegados à barra do Kwanza no dia 3 de Maio de 1560, a missão portuguesa foi recebida com hostilidade e desconfiança pelo novo rei do Ndongo, Ngola Kiluanje kia Ndambi, que os encarou como agentes do rei do Kongo, mandando-os aprisionar. Mais tarde, com a promessa de conseguir apoio diplomático e militar português, Paulo Dias de Novais teve permissão para regressar a Portugal.[10]
Na sua segunda viagem a esta região, Paulo Dias de Novais partiu de Lisboa no dia 23 de setembro de 1574, acompanhado por mais dois padres da Companhia de Jesus, tendo chegado à Ilha de Luanda em fevereiro de 1575,[10] aportando com dois galeões, duas caravelas, dois patachos e uma galeota.[11] Aí estabeleceu o primeiro núcleo de colonos portugueses: cerca de 700 pessoas, onde se encontravam religiosos, mercadores e funcionários, bem como 350 homens de armas.[12]
A Ngola Kiluanje kia Ndambi tinha entretanto sucedido a Njinga Ngola Kilombo kia Kasenda, discípulo do padre Francisco de Gouveia que, na sua estadia forçada de dezena e meia de anos, tinha aproveitado para fazer a sua acção evangelizadora entre os angolanos. No dia 29 de junho de 1575, Paulo Dias de Novais recebeu uma comitiva enviada pelo ngolapara o saudar.[10]
Reconhecendo não ser a ilha de Luanda o lugar mais adequado, avançou para terra firme e fundou a vila de São Paulo de Loanda em 25 de janeiro de 1576, tendo lançado a primeira pedra para a edificação da igreja dedicada a São Sebastião — santo de grande devoção dos portugueses e patrono onomástico do rei de Portugal[10] —, no lugar onde é hoje o Museu das Forças Armadas.[1]
A escolha do novo local para a vila foi influenciada sobremaneira pela existência de um magnífico porto natural, situado numa baíaprotegida por uma ilha; de uma fonte de água potável, as águas do poço da Maianga na (então) lagoa dos Elefantes;[13] e das excelentes condições de defesa oferecidas pelo morro de São Paulo, após a reconquista do lugar aos neerlandeses designado por morro de São Miguel, após a dedicação do forte que aí existe a São Miguel, santo da devoção de Salvador Correia de Sá.[14] A população constituída pela comitiva de Paulo Dias de Novais, composta por sapateiros, alfaiates, pedreiros, cabouqueiros, taipeiros, um físico e um barbeiro, teve dificuldades de adaptação à inclemência do clima e à carência de condições para a fixação.[9] No entanto, a vila expandiu-se para a “Cidade Alta”, na continuação do morro de São Paulo, onde se construíram as instalações para a administração civil e religiosa. Os soldados e os mercadores de escravos viviam na “Cidade Baixa”, na área actual dos Coqueiros.[13]
Em 1580, chegaram a Luanda dois missionários jesuítas, em 1584 outros dois e, em 1593, mais quatro. Apesar das naturais dificuldades encontradas, as primeiras tentativas da evangelização deram resultados apreciáveis, ao ponto de, em 1590, já se dizer que haver aqui cerca de vinte mil cristãos.[10]
No dia 1 de Agosto de 1594, chegou a Luanda um novo governador, João Furtado de Mendonça, que vinha substituir D. Francisco de Almeida e seu irmão D. Jerónimo. Fazia-se acompanhar por doze raparigas órfãs, educadas em Lisboa no recolhimento sustentado pela Misericórdia. A maior parte dos autores vê nestas raparigas as primeiras mulheres brancas que vieram para Luanda. Todas elas casaram com colonos aqui radicados.[10]
Durante este tempo, a economia da cidade assentava exclusivamente no comércio de escravos, proporcionando avultados lucros e um elevado nível de vida. Esta abundância reflecte-se em muitos aspectos da vida da cidade, por exemplo, nas festas levadas a efeito em 1620 para comemorar a beatificação de São Francisco Xavier. O custo da comédia pastoril representada e do fogo-de-artifício que se queimou, atingiu a soma de 3 mil cruzados, uma verba considerada exorbitante na época.[9]
No entanto, nem tudo foram gastos sumptuosos nesta época. Em 1605, com o aumento da população europeia e do número de edificações, que se estendiam já de São Miguel ao largo fronteiro do actual Hospital Josina Machel,[1] a vila de São Paulo de Luanda recebeu foral de cidade, sendo constituída a primeira vereação municipal.[13] Nesta época ergueram-se, na parte alta, as igrejas da Misericórdia, em 1576; a Sé Episcopal, em 1583, no local onde actualmente funciona Casa Militar da Presidência da República;[15] bem como a igreja dos Jesuítas, em 1593; o Convento de São José, em 1604, no local onde hoje se ergue o hospital; o palácio do governador, em 1607; e da Casa da Câmara, em 1623, onde, mais tarde, funcionou o Tribunal da Relação de Luanda.[9]
Luanda tornou-se a partir de 1627 o centro administrativo da região – que se começou a chamar de Angola, mas cuja dimensão era muito limitada. Para a defender foi construída a Fortaleza de São Pedro da Barra, em 1618, e a Fortaleza de São Miguel de Luanda, em 1634. Isto, no entanto, não evitou a sua conquista pelos neerlandeses e o domínio da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, entre 1641 e 1648.[1]
Da reconquista à abolição do tráfico de escravos
A tomada de Luanda pelos neerlandeses a 25 de Agosto de 1641 teve como consequência a brusca interrupção do fornecimento de escravos ao Brasil por parte da Coroa portuguesa, passando o tráfico de escravos para as mãos neerlandesas que conseguiam assim fornecer a mão de obra necessária às suas plantações no nordeste brasileiro. A braços com uma longa guerra com a Espanha, a metrópole portuguesa era incapaz de pôr cobro à situação. Coube, pois, aos próprios governantes locais brasileiros, apoiados pela coroa portuguesa, a organização de uma expedição a Angola.[16]
Uma primeira tentativa de reconquistar Angola foi chefiada pelo governador do Rio de Janeiro Francisco de Souto-Maior à frente de uma expedição constituída por oito navios e 500 soldados, incluindo dezenas de índios. Apesar de a expedição não ter alcançado o resultado esperado o facto de terem logrado trazer para o Rio dois mil escravos deu novo alento aos donos de engenho, que se entusiasmaram com uma nova expedição.[16]
Dois anos mais tarde, nova esquadra de 15 navios atravessou o Atlântico Sul rumo a Luanda. A expedição, capitaneada pelo novo governador do Rio, Salvador Correia de Sá e Benevides, deixou a Baía de Guanabara no dia 12 de Maio de 1648, reunindo entre 1400 e 1500 homens, segundo o historiador Charles Ralph Boxer, entre portugueses, brasileiros e angolanos refugiados.[17] A esquadra aproximou-se da capital angolana no dia 12 de Agosto, tendo encontrado a cidade protegida por apenas 250 neerlandeses nos Forte do Morro e da Guia, já que o grosso da guarnição, comandada por Symon Pieterszoon, se encontrava em Massangano, combatendo os portugueses com os jagas.[16]
Apesar de nos recontros de Luanda terem perecido 150 portugueses, contra apenas três mortos e oito feridos do lado neerlandês, a expedição logrou infligir um golpe fatal aos neerlandeses, destruindo as suas peças de artilharia, vitais para a sustentação da defesa. Perante isso, o administrador Cornelis Hendrikszoon Ouman pediu a paz.
Nos termos da rendição ficou acordado que deixariam Luanda e os postos avançados no Kwanza e em Benguela, mas levando consigo os escravos que eram propriedade da companhia neerlandesa. Regressado de Massangano, Pieterszoon aceitou a rendição, mas não sem antes distribuir amplamente armas entre os jagas, para que pudessem oferecer resistência aos colonizadores.[16]
Na sequência da vitória, Salvador de Sá assumiu o governo de Angola, rebaptizando o Forte do Morro de Forte de São Miguel, em homenagem ao patrono da expedição vinda do Brasil. A cidade de São Paulo de Luanda foi rebaptizada para São Paulo de Nossa Senhora da Assunção, alegadamente por “Luanda” fazer lembrar “Holanda”, sendo por isso mal visto. A escolha da invocação deveu-se à cidade ter sido conquistada no dia da festa de Nossa Senhora da Assunção.[14] Imediatamente os navios negreiros embarcaram em direcção ao Brasil com sete mil escravos apinhados nos porões. Estava restabelecido assim o tráfico de escravos para o Brasil.[16]
Quando os neerlandeses foram expulsos por Salvador Correia de Sá e Benevides, Luanda encontrava-se, segundo António de Oliveira de Cadornega, praticamente destruída, com igrejas e casas sem tectos e sem portas, tendo a maioria dos seus antigos habitantes sido dizimada ou se posta em fuga. Em carta que o Senado da Câmara dirigiu ao rei nos princípios de 1665, informava-se que a população branca de Luanda se resumia a 132 indivíduos.[9]
Para aumentar a população, a Provisão Real de 23 de Outubro de 1660 isentava os moradores de Luanda de participarem nas guerras do sertão e, em 4 de Maio de 1675, foi proposta ao Conselho Ultramarino a vinda de pessoas sob a alçada da lei, com exclusão apenas daquelas sobre as quais recaíssem penas capitais.[9]
Houve, no entanto, tentativas para reanimar a cidade. Logo em 1651 foi construída a actual Sé Argui-episcopado e, em 1664, a Igreja da Nazaré, começando-se também a delinear a parte baixa da cidade, na zona onde já existia um mercado, conhecido por Quitanda Pequena, no local mais tarde ocupado pela Rua de Salvador Correia, hoje Rua da Rainha Ginga. Na parte alta, foi construído o hospício de Santo António, em 1668 – onde presentemente se encontra o jardim público, em frente ao Palácio do Governo – e a Igreja do Carmo, em 1661, marcando o início da urbanização da Ingombota.[9]
Mas a cidade e a província permaneceram num estado de quase letargia por cerca de um século, só se alterando claramente em 1764, quando ascendeu à suprema magistratura de Angola um dos mais qualificados representantes da administração pombalina: D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho.[9]
De 1836 aos nossos dias
Enquanto apenas um quinto de suas importações eram originadas de Portugal, os outros quatro quintos eram com o Brasil. O equilíbrio na balança comercial era mantido com o intenso contrabando de escravos.[18]
A cidade limitava-se a funções militares, administrativas e de redistribuição. A indústria era praticamente inexistente e a instrução pública pouco evoluída.[18]
Em 1847, incluindo os edifícios públicos, a cidade contava com 144 casas com primeiro andar, 275 casas térreas e 1058 cubatas (cabanas de indígenas). Cidade de degredados, com cerca de cinco mil habitantes, possuía perto de cem tabernas, pelo que os viajantes a qualificavam como de moralidade duvidosa.[18]
Em 1889, o governador Brito Capelo inaugurou um aqueduto que forneceu a cidade de água potável, anteriormente escassa, abrindo caminho para o grande crescimento de Luanda. Em 1872 Luanda recebeu o etnónimo de “Paris da África“.
A partir de 1928, com o regime de excepção em Portugal, Luanda passa a ser mais utilizada como colónia penal. Nos primeiros anos do salazarismo, a população europeia da cidade era composta por condenados de delito comum e outros, utilizando uniformes de sarja azul escura com a inscrição D.D.A. em branco no peito e nas costas (Depósitos dos Degredados de Angola era como se chamavam as prisões e fortalezas de São Miguel e da Barra, onde permaneciam depositados os deportados e presos políticos em Luanda).[19]
Foi feita Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito a 17 de Novembro de 1938.[20]
Luanda é a maior e a mais densamente habitada cidade de Angola. Inicialmente projectada para uma população a rondar nos 500 mil habitantes, é hoje uma cidade sobre-habitada. Segundo os últimos estudos, vivem actualmente em Luanda mais de 8 milhões de pessoas.
Geografia
A cidade de Luanda coincide geograficamente com o município de Luanda.[21] A zona central de Luanda está dividida em duas partes, a Baixa de Luanda (a cidade antiga) e a Cidade Alta (conhecida pela “nova cidade”).[22]
A Baixa de Luanda está situada próximo do porto e tem ruas estreitas e antigos edifícios dos tempos coloniais. O litoral é marcado pela Baía de Luanda, formada pela protecção do litoral continental por meio da Ilha de Luanda e a Baía do Mussulo, ao sul do núcleo urbano principal, formada pela restinga do Mussulo.[nota 2]
Não existem rios grandes que desemboquem no litoral da cidade, mas vários cursos de água formam o sistema de bacias pluviais de Luanda. Os rios mais próximos são o Kwanza, o maior rio de Angola que faz o limite sul entre a província de Luanda e a província do Bengo, e o rio Bengo que faz o limite norte com a mesma província.[23][24]
Clima[editar
O clima em geral é quente, com características tropicais, apesar de ser surpreendentemente seco devido à corrente fria de Benguela que impede na maior parte do ano a condensação da humidade para gerar chuva, causando secas completas entre Maio e Outubro. Frequentemente, o nevoeiro impede a queda significativa das temperaturas durante a noite, nomeadamente durante os meses do Cacimbo (Junho, Julho e Agosto), mesmo assim elas podem descer facilmente aos 15 °C durante esta época.[25]
Luanda possui uma precipitação anual de 325 milímetros (mm), mas a variabilidade está entre as mais altas do mundo, com um coeficiente de variação superior a 40%.[26] O curto período de chuvas nos meses de Março e Abril depende de uma contra-corrente de norte que traz humidade à cidade. Segundo registos oficiais, o ano mais chuvoso da história de Luanda foi 1916, quando foram registados 851 mm, e 1858 foi o mais seco, com apenas 55 mm.[27][28]
[Esconder]Dados climatológicos para Luanda | |||||||||||||
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Mês | Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez | Ano |
Temperatura máxima recorde (°C) | 32,8 | 35 | 35 | 34,4 | 36,1 | 31,7 | 29,4 | 28,3 | 28,9 | 31,7 | 36,7 | 34,4 | 36,7 |
Temperatura máxima média (°C) | 28,3 | 29,4 | 30 | 29,4 | 27,8 | 25 | 23,3 | 23,3 | 24,4 | 26,1 | 27,8 | 28,3 | 26,9 |
Temperatura média (°C) | 25,8 | 26,7 | 27 | 26,7 | 25,3 | 22,5 | 20,8 | 20,6 | 21,9 | 23,9 | 25,3 | 25,8 | 24,4 |
Temperatura mínima média (°C) | 23,3 | 23,9 | 23,9 | 23,9 | 22,8 | 20 | 18,3 | 17,8 | 19,4 | 21,7 | 22,8 | 23,3 | 21,8 |
Temperatura mínima recorde (°C) | 20,6 | 21,1 | 21,1 | 21,1 | 17,8 | 15 | 14,4 | 14,4 | 16,7 | 18,3 | 20 | 19,4 | 14,4 |
Precipitação (mm) | 25,4 | 35,6 | 76,2 | 116,8 | 12,7 | 1,3 | 0 | 1,3 | 2,5 | 5,1 | 27,9 | 20,3 | 325,1 |
Dias com precipitação (≥ 0,1 mm) | 3 | 3 | 6 | 8 | 2 | 0 | 0 | 0 | 1 | 2 | 4 | 3 | 32 |
Umidade relativa (%) | 77,5 | 75,5 | 77 | 79,5 | 79,5 | 78,5 | 79,5 | 81 | 80 | 79 | 78 | 77 | 78,5 |
Horas de sol | 217 | 198 | 217 | 180 | 217 | 210 | 155 | 155 | 150 | 155 | 180 | 186 | 2 220 |
Fonte: Sistema de Classificação Bioclimática Mundial[29] e BBC Weather[30] |
Demografia
Globalmente, a população de Luanda aumentou nas duas últimas décadas, como consequência da fuga de vastos contingentes populacionais das zonas rurais para a capital durante a Guerra Civil Angolana[31]. O resultado foi um crescimento muito acentuado, não controlado, que não deixou de provocar uma série de problemas sérios – desde a escassez de habitações, de saneamento básico e de empregos até um aumento da criminalidade[32], passando pelo desajustamento do sistema viário a um volume vertiginoso de trânsito.
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Os habitantes de Luanda são na sua grande maioria membros de grupos étnicos bantus. A população original da região são os Ambundu, em particular os do grupo Axilwanda de cujo nome deriva o da cidade, mas também os que vieram de uma região que se estende de Luanda até Malanje.[33] Aos Ambundu juntaram-se no século XX, na vigência do regime colonial, grupos bastante numerosos de Ovimbundu e de Bakongo, especialmente nas últimas décadas coloniais e durante a Guerra Anti-Colonial; esta imigração reforçou-se novamente em consequência da Guerra Civil Angolana, que também desencadeou a passagem de muitos Ambundu rurais para a capital. Esta alberga entretanto também minorias oriundas de todos os grandes grupos étnicos do país, dos Côkwe aos Ovambo.
Para além dos habitantes de origem bantu, Luanda teve durante o período colonial uma forte minoria de portugueses. No fim deste período eram mais de 50 000, entre já nascidos no país e recentemente imigrados.[34] No momento do acesso de Angola à independência, a maior parte deste grupo deixou o país, entretanto, a população de portugueses, brasileiros e outros caucasianos voltou a ser tão numerosa como no início dos anos 1970. Convém salientar que em Luanda é particularmente alta a proporção da população mestiça, ou seja, de ascendência negra e caucasiana.
Ao mesmo tempo, a estrutura da sociedade está a evoluir de acordo com uma dinâmica ainda mal estudada mas que, de qualquer modo, aponta no sentido de um processo cada vez mais acelerado de formação de classes e de desigualdades sociais.[35]
Religião
Luanda tem, desde a sua fundação, uma população maioritariamente católica romana, embora actualmente a proporção dos católicos não praticantes esteja a aumentar. A cidade é a sede de um arcebispo católico, da Universidade Católica de Angola e de várias outras instituições católicas bem como de diferentes ordens religiosas. Ao mesmo tempo, tem vindo a crescer o segmento dos cristãos protestantes. A igreja protestante de implantação mais antiga em Luanda, e provavelmente até hoje com o número maior de fiéis, é a Igreja Metodista cujo bispado principal em Angola se encontra também na cidade. O forte afluxo de populações oriundas de outras partes do país, em razão da Guerra de Independência de Angola e da Guerra Civil Angolana, reforçou muito significativamente a presença em Luanda da Igreja Batista, cuja principal base social se encontra entre os Bakongo, e da Igreja Evangélica Congregacional em Angola, principalmente enraizada entre os Ovimbundu. Das igrejas protestantes fundadas antes da independência, possuem em Luanda comunidades mais reduzidas a Igreja Luterana, a Igreja reformada e a Igreja Adventista. Desde fins da era colonial, mas especialmente a partir da independência, fundaram-se em Luanda numerosas igrejas pentecostais, actualmente várias centenas; em muitas verifica-se uma forte influência brasileira, em particular na Igreja Universal do Reino de Deus. A comunidade islâmica é ínfima e quase exclusivamente composta por imigrantes vindos de países da África Ocidental. Em Luanda já não há, praticamente, pessoas que professem religiões tradicionais africanas, embora elementos destas religiões possam ainda ser encontrados em pessoas pertencentes a igrejas cristãs.[36]
Política e administração
Divisão administrativa
Fundada em 1576, a vila de São Paulo de Luanda recebeu foral em 1605, ascendendo à categoria de cidade, sendo constituída a primeira vereação municipal nesse mesmo ano.[13]
Após a independência de Angola, em 1975, o município de Luanda foi extinto, dividindo-se o território da cidade, primeiro, em três municípios e, depois, em nove: Cazenga, Ingombota, Kilamba Kiaxi, Maianga, Rangel, Sambizanga, Samba, Viana e Cacuaco.[37] Pela Lei n.º 29/11, de 1 de Setembro,[21] foi restaurado o município de Luanda, perdendo a categoria municipal Ingombota, Kilamba Kiaxi, Maianga, Rangel, Sambizanga e Samba.[37]
O novo município de Luanda está dividido em sete distritos urbanos: Ingombota, Kilamba Kiaxi, Maianga, Rangel, Samba e Sambizanga,[38] e Ngola Kiluanje.[39]
Golfe, Ilha do Cabo, Ingombota, Neves Bendinha, Ngola Kiluanje, Palanca, Prenda, Vila Alice tornaram-se subdivisões.[40][41]
Cazenga, Viana e Cacuaco mantêm-se como municípios da Província de Luanda.
Cidades-irmãs
Belo Horizonte, Brasil (1968)[42]
- São Paulo, Brasil[43]
- Brasília, Brasil (1968)
- Salvador, Brasil[44]
- Recife, Brasil[45]
- Rio de Janeiro, Brasil[46]
- Houston, Estados Unidos (2003)[47]
- Oaxaca, México (2008)
- Tahoua, Níger
- Lisboa, Portugal (1988)[48]
- Porto, Portugal (1999)[49]
- Matosinhos, Portugal[48]
- Valongo, Portugal[48]
- Vale de Cambra, Portugal[50]
- Maputo, Moçambique[carece de fontes]
- Joanesburgo, África do Sul[carece de fontes]
- Cairo, Egito[carece de fontes]
Economia[editar
Luanda é o principal centro financeiro, comercial e economico de Angola. O que melhor ilustra esta posição da cidade é a presença das sedes das principais empresas do país: Angola Telecom, Unitel, Endiama, Sonangol, Linhas Aéreas de Angola e Odebrecht Angola, dentre outras.[51] Uma das consequências desta constelação é que Luanda foi classificada, em 2011, como a cidade mais cara do mundo, e que uma camada extremamente rica da população vive ao lado de uma maioria pobre ou remediada.[52]
A indústria transformadora (principal actividade de Luanda) inclui alimentos processados, bebidas, têxteis, cimento e outros materiais de construção, produtos plásticos, metais, cigarros, e sapatos. O petróleo (encontrado em depósitos off-shore próximos) é refinado na cidade, em instalações que foram várias vezes atacadas durante a guerra civil angolana (1975–2002). Luanda possui um excelente porto natural, de onde exporta principalmente café, algodão, açúcar, diamantes, ferro e sal. A cidade também possui uma próspera indústria da construção civil, um efeito económico bom para o país, que experimentou, desde 2002, um retornou à estabilidade política com o fim da guerra civil. A cidade é a mais desenvolvida de Angola e o único grande centro económico do país. Vale a pena mencionar, no entanto, os musseques que prolongam Luanda muitos quilómetros para além da antiga cidade, como resultado de várias décadas de conflitos armados, agravadas pelo aumento das desigualdades sociais e pela corrupção generalizada.
Em 2007 foi inaugurado em Luanda o primeiro centro comercial de Angola, o Belas Shopping, totalmente climatizado, com oito salas de cinema e zona de alimentação, área de lazer e uma centena de lojas.[53] Em 2011 inaugurou-se a Luanda Fashion Center no bairro do Golf 2, o maior centro comercial no país dedicado exclusivamente às áreas de moda e beleza.[54] Por outro lado registam-se esforços para limitar o “comércio informal” que num primeiro tempo chegou a ocupar um espaço muito grande.[55]
Reconstrução e obras públicas
Desde o final da guerra civil em 2002, Angola tem vivido um período de grande prosperidade económica, sendo hoje uma das economias de maior crescimento a nível mundial.[56] Nos últimos anos, o governo central tem vindo a desenvolver um ambicioso plano de reconstrução nacional que, embora abranja todas as regiões do país, tem privilegiado a zona da capital.
Em Luanda a reconstrução é evidente em quase todos os aspectos da sociedade. A reabilitação de estradas, incluindo o seu alargamento e a aplicação de novos tapetes de asfalto, está a ser feita por toda a cidade. A construtora brasileira Odebrecht está actualmente a ultimar a construção de duas auto-estradas de seis faixas de rodagem: uma das vias — chamada Auto-Estrada Periférica de Luanda — permite agora o acesso rápido ao Cacuaco, Viana, Samba, Kilamba Kiaxi, ao Estádio Nacional 11 de Novembro (construído para o CAN 2010) e ao futuro aeroporto de Luanda; a outra via liga o centro da cidade de Luanda a Viana, estando prevista a sua conclusão até ao final de 2009.[57]
As construtoras portuguesas Mota Engil e Soares da Costa ganharam um concurso de 136 milhões de dólares para a renovação da Baía de Luanda. O projecto envolve a despoluição da baía, o alargamento para 6 faixas de rodagem dos 5 km da Avenida 4 de Fevereiro, ligando o porto de Luanda à ilha de Luanda, a construção de 12 parques de estacionamento, zonas verdes e áreas de lazer. O projecto deverá estar concluído em finais de 2011.[58]
Está também a ser feito um grande investimento na habitação social para abrigar muitos dos que actualmente habitam nos musseques que dominam a paisagem de Luanda. Uma grande empresa chinesa ganhou um contrato do governo para construir a maior parte dessas casas.[59] O adjunto do primeiro-ministro declarou em 2008 que a pobreza em Angola seria combatida “com programas de diversificação da economia, criação de empregos e construção de habitações sociais”.[60]
Em 2009, o primeiro-ministro António Paulo Kassoma anunciou que o programa de urbanismo e habitação lançado pelo Governo previa a construção de mais de um milhão de fogos até 2012, grande parte deles em Luanda.[61] No entanto, muitas das habitações construídas não são economicamente acessíveis à grande maioria da população – tanto assim que há por exemplo em Kilamba milhares de habitações vazias.[62] Em 15 de Agosto de 2017 foi inaugurado o Viaduto da Unidade Operativa de Luanda pelo ex-presidente José Eduardo dos Santos, localizado na Avenida Deolinda Rodrigues, construído em seis meses com quatro faixas de rodagem e uma rotunda no inferior.[63][64]
Turismo
Um dos mais belos cartões-postais de Luanda, a Avenida 4 de Fevereiro, conhecida simplesmente como Marginal, exibe o contraste entre a beleza natural da Baía de Luanda e os edifícios modernos ao seu redor.
A ilha de Luanda, à entrada da baía de Luanda, possui belíssimas praias de areias brancas e águas claras, ornadas por coqueiros. Na ilha existe uma excelente estrutura de entretenimento, com muitos bares e restaurantes.
O carnaval da cidade, tem sido cada vez mais procurado pelos visitantes.[65]
A Marginal é sobejamente conhecida pelos inúmeros transeuntes que se passeiam e aí fazem desporto diariamente. Mais recentemente, algumas personagens do mundo dos media e publicidade têm tentado promover a marginal como um local hippie chique, se bem que duramente criticados pela população que sente repulsa por estas novas tendências, que são desajustadas ao significado da marginal. “Hippie chiques é para casamentos” dizia um frequentador da marginal em off e em tom de desabafo.