Criada em 1938, a TAAG é uma companhia aérea angolana que opera voos para mais de 25 destinos internacionais. Na frota da empresa estão aeronaves como Boeing 777-300, 777-200 e 737-700. No relato abaixo, veja como foi a viagem do leitor Marcus Marroni de São Paulo para a Cidade do Cabo, com conexão em Luanda, na Angola.
Resumo do review
TAAG – Voos DT 746 e DT 579
São Paulo (GRU) – Luanda (LAD) – Cidade do Cabo (CPT)
Aeronave: Boeing 777-300
Pontos positivos: configuração da classe econômica, serviço e entretenimento
Pontos negativos: aeroporto de Luanda, na conexão em Angola
Como é voar na classe econômica da TAAG de São Paulo para a Cidade do Cabo
Por Marcus Morroni
Olá, leitores do Melhores Destinos, meu nome é Marcus, sou servidor público e moro no extremo sul do Brasil, bem próximo à fronteira com o Uruguai. Creio ter despertado minha paixão por viagens quando estava em recuperação de um acidente, aos cinco anos, quando queimei 64% do corpo. Após um período de internação, durante o tratamento das cicatrizes, era preciso viajar cerca de 500 km para Porto Alegre todos os meses, entre 1983 e 1984. Para me distrair, nestas viagens à capital, minha família me levava ao antigo Aeroporto Salgado Filho (hoje Terminal 2, operado pela Azul) para observar os aviões de Varig, Cruzeiro, Transbrasil e Vasp.
Isso também me fez um aficcionado pela aviação. Hoje eu não me importo em pagar um pouco a mais, optar por um voo mais longo e escolher a companhia e o modelo da aeronave.
Aproveitando uma promoção aqui no Melhores Destinos, resolvi conhecer a Cidade do Cabo, na África do Sul, no mês de outubro – embora não estivesse nos meus planos outra viagem internacional neste ano. Voei agora com a Companhia Aérea Angolana TAAG, sendo que no ano passado voei para outra região da África do Sul, mas com a South African Airways. E, como as poucas avaliações que encontrei sobre a empresa angolana não eram nada boas, resolvi fazer este post para descrever como foi a minha experiência, utilizando como comparação voos internacionais com outras companhias, principalmente a South African – e apesar de alguns pontos negativos, já posso adiantar que no geral aprovei.
Compra
Vi a promoção no MD, saindo de e retornando para Porto Alegre, em trechos domésticos operados pela Gol. O valor era de R$ 1.698 ida e volta com todas as taxas inclusas. Cliquei no link que me direcionou para o Viajanet, e muito rapidamente, de forma fácil foi efetivada a reserva, e logo em seguida
confirmada a compra.
Com a confirmação fui no site da TAAG com o localizador, e lá estava a minha reserva, todavia não consegui marcar os assentos. Enviei um e-mail para a empresa para saber o procedimento e no outro dia já veio a resposta informando que na minha classe tarifária só era permitida a marcação dos assentos no check-in.
Check-in
Dois dias antes da viagem entrei em contato com a TAAG no Brasil pelo WhatsApp para saber se estava tudo certo com a minha reserva. Fui prontamente atendido e informado que estava tudo certo e que só faltavam os dados do meu passaporte, que foram passados atendente no mesmo instante. Então, ponto para a empresa.
Na noite anterior, fiz o check-in através do celular e escolhi os assentos dos dois trechos internacionais. Aqui vale uma observação que nada tem a ver com a TAAG, mas sim com a Gol, que não permite o check-in via internet nem no autoatendimento dos aeroportos em voos internacionais em que o segundo trecho não é operado pela Gol – mesmo que não haja bagagem a ser despachada. O argumento da companhia é que a documentação, como vistos e vacinas, devem ser conferidas. Ora, mas esse procedimento já é realizado pela empresa que irá fazer os trechos internacionais seguintes, o que no meu caso ocorreu em ambos, tanto em São Paulo como em Luanda antes do embarque, em que tive o passaporte, bem como a carteirinha de vacinação checadas. O que torna o fato mais ridículo ainda é que no retorno também foi necessário o mesmo procedimento de check-in no balcão no voo de São Paulo para Porto Alegre.
Decolei em Porto Alegre e cheguei em Guarulhos com três horas de antecedência da partida para Luanda. Fui direto ao balcão da TAAG no Terminal 2 para conferência dos documentos e impressão dos cartões de embarque, procedimento realizados sem filas e de forma ágil. Por curiosidade, mas apenas por curiosidade mesmo, perguntei o valor da diferença para a classe executiva e fui informado que primeiro teria que trocar de classe tarifária na econômica para então fazer o upgrade, que sairia em torno de 1.300 dólares ida e volta.
Fui para o portão de embarque no Terminal 2 de Guarulhos, que naquele momento estava bem vazio e sem filas, passando rapidamente pela Polícia Federal. Notei que, mesmo com a privatização o T2, pouco mudou em comparação há nove anos quando fiz meu primeiro voo internacional. Na verdade, o T2 continua muito inferior ao Terminal 3, utilizado pela maioria das companhias aéreas que fazem voos para o exterior – e este é um dos pontos negativos ao qual me referi logo no início.
Embora tenha atrasado apenas poucos minutos, foi muito desorganizado e praticamente sem preferência às prioridades. Mas vale a ressalva que todos os funcionários no Brasil foram atenciosos desde o primeiro contato, até o embarque.
Cabine
Aqui está o grande ponto positivo da TAAG, e que considero o mais importante numa viagem longa: no Boeing 777-300, a cabine da classe econômica está disposta em três fileiras de três assentos, totalizando nove por fileira. O avião não aparentava ser velho (embora também não parecesse ser muito novo), e a cabine estava limpa e em ótimo estado de conservação.
O espaço entre fileiras é melhor do que o de outras empresas em que já viajei, com uma reclinação aparentemente um pouco superior e um apoio para os pés. Em comparação com a SAA, a configuração da econômica da TAAG é muito superior – sendo comparável, sem exageros, a da Singapore. Gostaria de deixar claro que estou apenas comparando a TAAG com a Singapore em relação aos assentos da classe econômica, sendo que nos demais quesitos como serviços e o resto tudo não há como comparar a melhor companhia aérea do mundo com uma outra que nem sequer aparece no ranking das 100.
Ressalte-se que a TAAG além das classes Econômica e Executiva, que é bem ampla, dispõe ainda de Primeira Classe.
Entretenimento
Chegando no meu lugar, encontrei um kit com um travesseiro e uma manta fina do tamanho padrão, que considero um pouco curta. Não havia kit de amenidades disponível com o tapa-olhos, escova e creme dental nas poltronas, como na SAA e Singapore (que é bem completo), nem no fundo do avião, como na Latam Brasil.
No entretenimento a bordo estava disponível uma revista da empresa – bem interessante por sinal; além de filmes on demand, jogos e músicas. Porém neste voo de ida até Luanda o sistema não estava funcionando, sendo acessível apenas o mapa de voo. Deu para ver que as opções não eram muitas, e pro meu gosto, não tão boas: tanto é que na volta assisti “Perdido em Marte”, um dos melhores do catálogo, só pra terem uma ideia.
Os fones foram distribuídos mais de uma hora após a decolagem e eram daquele modelo individual, os mesmos oferecidos pela SAA, que encaixa na orelha, meio complicado no começo para quem não está acostumado. Uma curiosidade: no retorno, mais especificamente no trecho Cape Town – Luanda no 777-300 prefixo D2-TEH, o sistema também não funcionava. Uma passageira angolana reclamou e foi informada por um dos comissários que o comandante reiniciaria o sistema e o problema seria resolvido, mas até a chegada em Angola não funcionou.
Para minha surpresa, a aeronave escalada para o trecho para Luanda-Brasil, cerca de três horas e meia depois, era a mesma da primeira parte, todavia, com o sistema de entretenimento desta vez funcionando normalmente. Em compensação, os comissários esqueceram de passar oferecendo os fones de ouvido. Por sorte, havia legendas em português.
Serviço de Bordo
Jantar
Entre uma e duas horas após a decolagem, foram oferecidas duas opções de janta: carne de rês com brócolis e batatas ou peixe com batatas. Optei pelo primeiro, que foi servido com uma salada de tomates, cenoura ralada, repolho e azeitona, além de bolachinha, pão francês, queijo polenguinho, manteiga e sobremesa.
Estava dentro do padrão, porém, me pareceu que a salada estava um pouco salgada. Para beber havia cerveja, sucos, água e refrigerantes, além de um vinho branco e um tinto. Aí vem uma das partes boas, pois o vinho tinto era um Almadén Cabernet Sauvignon, que assim como na SAA, é entregue a garrafa de 250ml. Os talheres eram de plástico, assim como o copo, que veio junto com um guardanapo e um lencinho umedecido para assepsia, que também estava disponível nos banheiros. No voo de volta, o vinho era um português chamado Casaleiro. Experimentei o branco e não gostei, me pareceu bem inferior ao Almadén.
Na volta optei pelo peixe com batatas. Achei muito bom – a segunda opção era frango com arroz.
Café da manhã
O café da manhã foi servido cerca de 45 minutos antes da aterrissagem e, além das tradicionais frutas com pedaços de melão, abacaxi e uva, havia um sanduíche quente de peito de peru defumado com queijo, pão, bolachinha, manteiga, polenguinho, geleia e iogurte. Com exceção do pão (borrachudo), estava tudo muito bom. Além de água e sucos, havia também café preto e com leite.
Comissários e equipe de solo
Sobre as equipes de solo: todos foram bem atenciosos, tanto no Brasil como na África do Sul. Desde o primeiro contato por e-mail, passando pelo atendimento via WhatsApp até no balcão e no embarque. Já em Angola, encontrei funcinários educados, assim como outros mais fechados – todavia, não houve falta de educação ou estupidez em momento algum.
Os comissários de bordo também: se não foram muito cordiais, também não presenciei nada fora do normal. Realizaram o trabalho com eficiência, embora em alguns momentos parecessem com certa pressa. Como a companhia aérea é angolana, todos os avisos foram em português e também em inglês. Comparando com a SAA, os comissários da TAAG me pareceram um pouco mais simpáticos, mas bem menos que os da Latam e da American.
Programa de Fidelidade
O programa de fidelidade da TAAG é o Umbi Umbi e não possui parceria com o de outras empresas aéreas, então só é válido para quem voa seguidamente com a companhia, o que não é o meu caso.
Conclusão
A TAAG foi tranquila e pontual, tanto na ida quanto na volta. Mas ouvi relatos de passageiros que viajaram com a companhia para a África, cerca de quatro dias antes da minha ida, que enfrentaram seis horas de atraso na saída do Brasil. Na conexão em Luanda, como o aeroporto não dispõe de finger, o desembarque é feito através de ônibus em posição remota e todos os passageiros da classe econômica desembarcam pela porta traseira.
Logo que você desce do ônibus e desembarca no terminal, os passageiros em conexão internacional já são direcionados para a área de trânsito, onde passam pelo raio-x. O detalhe é que há somente uma máquina, então… paciência, porque o processo é lento.
O aeroporto da Cidade do Cabo é excelente e não demorei para passar pela imigração. O atendente conferiu meu passaporte, não me fez perguntas e nem a carteirinha de vacinação me solicitou – talvez porque tenha percebido que eu já estive na África do Sul.
Apenas como curiosidade: os ônibus My City de Cape Town estavam em greve quando cheguei, o que causou algum incômodo, mas nada que atrapalhasse a viagem.
Conclusão
Vou ser bem sincero: se você for viajar com a TAAG, não crie grandes expectativas, embora após ler este relato possa ter induzido a isso. Já me decepcionei com outras companhias como SAA e Latam por esperar algo melhor, e me surpreendi com TAAG e com American – muito em função de uma baixa expectativa, face a relatos negativos. A única companhia aérea que confirmou tudo o que eu esperava foi a Singapore, quando voava para o Brasil, mas esta é uma exceção à regra.
Em relação à TAAG, o ponto ruim, e muito ruim, é o aeroporto de Luanda. Pequeno, apertado e faz um calor infernal. Mas creio não ser culpa da companhia, muito embora seja um fator a considerar. Na ida, a conexão foi de duas horas e meia, que passaram rápido. Na volta, no entanto, a espera foi de cerca de quatro horas. Terrível. Já estive em Maputo, capital de Moçambique, um país pobre da África, e assim como Angola, de língua portuguesa. Lá, o aeroporto é muito superior, sem comparação. Não entendo como um país rico em petróleo possa ter uma aeroporto tão ruim.
Como já relatei, achei a configuração da classe econômica uma das melhores que já presenciei, o serviço é razoável, assim como o entretenimento e o serviço de catering. Pretendo voltar ao continente africano, talvez a Namíbia nos próximos anos, e confesso que hoje não sei se escolheria TAAG ou SAA. Se o aeroporto da capital angolana melhorar um pouco, nem que seja em relação à climatização, não tenho dúvidas que optaria pela TAAG.
Espero de alguma forma ter contribuído com o meu relato. Abraço a todos. Desejo que curtam suas viagens!